Segunda-Feira, dia 13 de Maio de 2013
Esta fábrica produz chá preto e verde e, com os seus 32 hectares de plantação e as 38 toneladas que produz em média por ano, segundo disse à Lusa o responsável pela Gorreana, Hermano Mota, continua a ser a maior.
A outra fábrica em funcionamento é a Chá Porto Formoso, também no concelho da Ribeira Grande, que voltou a abrir em 2001. A produção é pequena: tem cinco hectares de plantação e produz entre 12 e 14 toneladas de três variedades de chá preto por ano, vendendo cerca de 60% da produção na própria loja do espaço da fábrica. O restante é vendido nos Açores e uma pequena parte nas chamadas lojas 'gourmet' do resto do país.
“Hoje em dia, o chá é um produto turístico. Nós só estamos no mercado porque é um produto turístico”, disse à Lusa José António Pacheco, proprietário da fábrica, que recebe cerca de vinte mil visitantes por ano.
Os turistas visitam a fábrica e a plantação, podem passar por um espaço museológico, provar o chá e assim também “conhecer um pouco da história dos Açores”, sublinhou.
No caso da Gorreana, que também se pode visitar, em 2012, cerca de 47% da produção destinou-se ao mercado açoriano, “trinta e qualquer coisa por cento” foi para o continente e o restante foi vendido para o estrangeiro, com a França a superar as vendas para a Alemanha recentemente, por causa do chá verde e por a fábrica ter conseguido entrar numa “boa casa de distribuição francesa”, segundo Hermano Mota.
De acordo com este responsável, as vendas para o continente têm “muitas oscilações”, enquanto nos Açores o consumo de chá “faz parte do dia a dia”.
As primeiras plantas de chá chegaram aos Açores, vindas do Brasil, no século XVIII, segundo diversos registos e citações na imprensa local. Inicialmente, era uma planta ornamental, que se dava bem com o clima temperado e as chuvas da ilha e ganhava aroma com o subsolo vulcânico.
As plantações de chá e o fabrico foram depois impulsionadas pela Sociedade Promotora da Agricultura Micaelense que, em 1878, levou dois chineses até S. Miguel para ensinarem os locais o processo de produção.
“Não há uma casa em Porto Formoso onde não se beba um chá de manhã”, garantiu Luísa Teixeira, antiga apanhadeira de chá, recebendo a concordância de Luísa Cabral e Dionísia Rei.
As três estiveram no sábado passado na fábrica Chá Porto Formoso, integrando um grupo de cem figurantes que recriaram a colheita manual da folha do chá, como acontecia na primeira metade do século XX, e "a vivência associada ao chá” na ilha de S. Miguel.
“O chá na ilha de S. Miguel tem uma história muito rica e, associada a essa cultura agrícola, há uma etnografia interessante que importa divulgar”, defendeu José António Pacheco.
Luís Teixeira, Luísa Cabral e Dionísia Rei lembram-se bem de quando havia várias fábricas na região e as famílias tinham plantações próprias de chá. Entre maio e setembro, carregavam-se “camiões” de folha de chá para as fábricas, garantiram, lembrando ainda os “ranchos de mulheres” que a apanhavam, em jornadas de trabalho, mas também de alguma festa e de muitos “bordados e rendas” na pausa para o almoço.
A partir dos anos de 1960, as fábricas foram fechando e as plantações foram sendo substituídas por pastos para as vacas.
Ainda assim, restam “três ou quatro famílias” em Porto Formoso com plantas de chá preto nos seus terrenos e que produzem todo o chá que consomem durante um ano. No caso de Adelina Rebelo, 40 anos e filha de Luísa Teixeira, isso significa um a dois quilos por cada apanha.
“A chaleira está sempre ao lado do lume” e o chá bebe-se de manhã e para acompanhar as refeições. “É chá a todas as horas”, assegurou Adelina.
Fonte: Açoriano Oriental,
http://www.acorianooriental.pt/noticia/plantacoes-de-cha-dos-acores-produzem-50-toneladas-anuais-e-sao-as-unicas-da-europa