Sexta-Feira, dia 12 de Junho de 2009
Vem à Terceira ministrar um curso de observação de aves (hoje e amanhã). É preciso um curso para observar aves? Respondendo textualmente: não necessariamente. De facto, qualquer pessoa pode observar aves, com ou sem a ajuda de material óptico, basta que para tal tenha interesse e curiosidade. No entanto, ajuda, e motiva mais, se estivermos despertos e sensibilizados para a avifauna que pode ocorrer numa eterminada época, habitats de ocorrência, sabermos distinguir os vários grupos de aves, a sua origem geográfica, etc. É este género de instrumentos que um curso neste âmbito temático poderá fornecer ao neófito; daí o curso titular-se: Iniciação à Observação de Aves no Arquipélago dos Açores. Os Açores têm potencial turístico na observação de aves? O potencial turístico dos Açores para a observação de aves (se bem que dirigido a perfil de turista muito específico) é imenso, e o arquipélago açoriano faz actualmente parte do circuito do birdwatching internacional, e está referenciado como sendo o local mais importante para a corrência/observação de aves de origem Neártica (América do Norte) no continente europeu. Locais como a Lagoa das Furnas, Sete Cidades, Mosteiros (São Miguel), Paul da Praia, Reservatório do Cabrito, Cabo da Praia (Terceira), Flores ou Corvo, entre outros, são referências para os birdwatchers europeus e locais de visita obrigatória. A título de exemplo, só para podermos ter uma ideia da importância/impacto que este género de turismo pode ter a nível local, em Novembro de 2008 estiveram na ilha do Corvo, em determinado momento, ao mesmo tempo, 19 ornitólogos europeus só para observarem aves. E este facto deveu-se ao acaso, sem que algo tivesse sido organizado ou preparado. Quais são as principais aves açorianas que interessam aos especialistas e amadores ao ponto de se deslocarem às ilhas? Primeiro que tudo as espécies endémicas açorianas: o Priolo Pyrrhula murina e o Paínho de Monteiro Oceonodroma monteiroi (“promovido” a nova espécie em data recente).O Priolo é uma espécie única que apenas existe em São Miguel, na Serra da Tronqueira até ao Vale das Furnas, tendo uma população estimada em cerca de 400 indivíduos. O Paínho de Monteiro apenas pode ser observado na Graciosa, nos ilhéus de Baixo e da Praia, também com uma população avaliada em algumas centenas de casais. Falamos de duas espécies que só existem nos Açores. Depois, existem ainda oito subespécies endémicas, assim como espécies que, em Portugal, apenas nidificam nos Açores. Mas, o que motivará mais uma visita aos Açores, por parte dos ornitólogos e birdwatchers europeus, será mesmo a possibilidade de observar espécies da América do Norte na
Europa. E as possibilidades, sobretudo entre Setembro e Março, não têm paralelo no contexto europeu. Acredita que ainda haverá aves endógenas por descobrir nos Açores? Penso que dificilmente se descobrirá uma nova espécie para os Açores. Mesmo se a ornitologia nos Açores está pouco desenvolvida e há pouca gente a desenvolver estudos e trabalhos com aves (mesmo se o potencial é imenso e quase inesgotável), dificilmente passaria despercebida a presença de uma espécie residente/reprodutora. Pode, no entanto, acontecer, no futuro, tal como aconteceu com o Paínho de Monteiro, que uma qualquer (sub)espécie, endémica ou não, seja elevada a espécie. Contudo, aparte as espécies de aves marinhas, muito pouco tem sido feito com as outras espécies.