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Ruína inaceitável!

Domingo, dia 20 de Março de 2011

Fica ali à subida, logo depois da porta do cemitério “de baixo”, em Angra do Heroísmo. Está em ruínas desde o sismo de 1 de Janeiro de 1980 e teve por nome Convento de Santo António dos Capuchos.

Segundo as crónicas correntes a ideia de ali se construir um convento para os religiosos desta observância data de 1643 e foi seu padroeiro um “desconhecido” destas terras chamado João d’Ávila, Capitão de Ordenanças, herói da Restauração de 1640 e um dos líderes do cerco e conquista da fortaleza de S João Baptista, que então se chamava de S. Filipe.

Sem ele e Francisco Ornelas da Câmara a história desses anos seria bem outra. Quando morreu, foi sepultado no dito Convento.

Durante o século XVIII o edifício recebeu lindos painéis de azulejos, de que fala Santos Simões no volume dedicado à Azulejaria Portuguesa nos Açores e na Madeira, edição da Fundação Gulbenkian. A talha barroca e doirada dos altares era também dessas épocas, conforme se vê em fotografias reproduzidas no livro de Francisco Ernesto O. Martins Subsídios para um estudo da Arquitectura nos Açores. O claustro tinha ao centro, em vez do tradicional tanque, um grande cruzeiro de pedra esculpida, agora guardado no Museu e à espera de melhores dias.

Se já seriam suficientes estes dados, para justificar a estranheza de ver ainda hoje um edifício destes feito em cacos, o melhor tenho guardado para vos contar.

Em 1818 falecia em Angra D. Frei Alexandre da Sagrada Família, nascido no Faial, Bispo de Angra entre 1816 e 1818. Este também “desconhecido”, foi o primeiro Prelado nascido nos Açores que teve a honra de ser Bispo na sua terra de origem e era tio de Almeida Garrett, tendo mesmo influenciado a sua educação. Está, igualmente, sepultado na igreja de Santo António.

Seguindo adiante e como se sabe, a organização da resistência liberal em Angra, nos anos da “emigração”, como é costume referirem-se os tempos das lutas liberais entre 1828 e 1834, levou ao encerramento de conventos e mosteiros na Terceira e à sua utilização para fins bem pouco pacíficos, ou seja, para instalação de unidades militares recompostas ou organizadas a partir dos que, fugindo de D. Miguel, conseguiam arribar à ilha.

Foi nessas circunstâncias que outro “desconhecido”, Almeida Garrett, acabou ali aquartelado, conjuntamente com os Voluntários Académicos, unidade também “desconhecida” sobretudo dos que, mesmo sem saber muito, se interessam pelos assuntos desta época liberal.

Termino esta ladainha de mortos “desconhecidos” com a nota de que também ali está sepultado Teotónio Simão de Ornelas Bruges Paim da Câmara de Ávila e Noronha Ponce de Leão Borges de Sousa e Saavedra, Visconde de Bruges e 1º Conde da Praia da Vitória, líder incontestável da causa liberal nesta ilha e nos Açores. Sem ele a história também teria sido bem outra.

Da Restauração ao Liberalismo parece terem sido escolhidos a dedo estes personagens.

É por isso que vos trago aqui hoje esta ruína inaceitável. Este lugar onde tantos “desconhecidos” estão sepultados, onde tanta identidade espera não apenas pela justa memória mas, principalmente, pela recordação geradora de novas e modernas atitudes.

Digam lá se não é de se ficar quedo de pasmo perante tantas obras menores, quando isto é deixado às ervas, à chuva, ao abandono!

Sei que é privado! Sei que o dinheiro é pouco!

Mas sei também que, quando se quer, o dinheiro aparece! Em protocolos em parcerias, em acordos! O que aquilo não pode é continuar assim!

É vergonha demais!

Fonte: Diário Insular, 20-03-2011

http://www.pt.cision.com/O4KPTWebNewLayout/ClientUser/GetClippingDetails.aspx?id=74d91640-12de-4c01-b4f6-92c9da5634e8&analises=1

 

 




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